Livro Cotidiano

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Tem uma vela acesa dentro da barriga de cada um de nós

Bom, não é exatamente uma vela acesa nem está dentro de nossa barriga. Mas é como se fosse e se lá estivesse. A questão é que a maior parte da energia que ingerimos na forma de alimentos é “queimada” dentro do nosso corpo e o resultado disso é que estamos sempre nos aquecendo por dentro.

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Em um dia-a-dia comum, sem grandes atividades físicas, apenas uma pequena parte daquelas 2.000 ou 2.500 quilocalorias que comemos diariamente é usada para fazer algum trabalho externo como aumentar a energia potencial de um objeto que levantamos, dar energia potencial para nosso próprio corpo ao subirmos uma escada ou uma montanha, fornecer energia cinética para um carro que empurramos etc. A maior parte da energia contida no alimento que ingerimos é gasta internamente em nosso corpo e acaba por nos aquecer. Mesmo que esse gasto interno possa corresponder a algum trabalho mecânico, como quando nosso coração bombeia o sangue pelas veias – não fazendo com nosso sangue nada muito diferente do que uma bomba de aquário faz com a água – mais cedo ou mais tarde, por causa da viscosidade do sangue, essa energia produzida acaba nos aquecendo.
Esse poder de aquecimento do nosso alimento corresponde aproximadamente a uma vela acesa todo o tempo dentro do nosso corpo. Ou, se preferir, a uma lâmpada incandescente de 60 W ou 100 W, dependendo do tamanho da pessoa e de quanto ela come. Essa produção interna de energia é boa, pois nos permite viver em ambientes muito frios: seres humanos e outros animais de sangue quente, como os pingüins ou os ursos, podem viver em ambientes muito frios. Os animais de “sangue frio”, que nós, animais de sangue quente, gentilmente chamamos de poiquilotérmicos, pecilotérmicos ou ectotérmicos, não têm essa possibilidade.
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Mas se não tivéssemos como nos livrar dessa energia produzida internamente, nosso corpo se aqueceria indefinidamente. É a existência de processos de refrigeração que garantem que isso não ocorre. Quando o ambiente está frio, a energia produzida internamente é transferida para o meio externo por processos que incluem a condução térmica para coisas nas quais estamos encostados, a condução térmica para o ar seguida por seu deslocamento para longe de nossa pele (a convecção) e a radiação (irradiamos pelo mesmo processo que aquecedores de ambiente que usam resistências elétricas aquecidas até ficarem vermelhas irradiam; a única diferença é que irradiamos menos intensamente).
Quando esses processos de refrigeração não são suficientes para eliminar aqueles 60 W ou 100 W produzidos internamente, nosso organismo dispara outro processo de refrigeração, o suor. Neste caso, uma fina camada de água se forma sobre nossa pele e, na medida em que ela evapora, a superfície da pele esfria, pois a água que evapora carrega mais energia do que a que não evapora. (Lembre que para evaporar um grama de água a 100 graus Celsius são necessárias cerca de 540 calorias. Quando a evaporação ocorre a uma temperatura mais baixa, como a da nossa pele, a energia carregada pela evaporação da água é um pouco maior.)
O suor é um processo de refrigeração do corpo humano que é disparado quando o ambiente está quente, quando estamos exageradamente agasalhados (dificultando a radiação, a convecção e a condução térmica) ou quando produzimos muita energia interna. Este último caso é o que ocorre quando fazemos atividades físicas relativamente pesadas.
Atividades físicas exigem esforço mecânico (subir escadas, levantar coisas, correr, empurrar carros quebrados etc.) e para suprir essa demanda adicional de energia nosso organismo começa a produzir uma potência maior do que aqueles 60 W ou 100 W.
Seria ótimo se para cada quantidade de energia externa que produzimos nosso organismo precisasse produzir a mesma quantidade de energia “queimando” alimento. Se fosse assim, ao levantar um livro de 1 kg do chão até uma mesa de 1 m de altura estaríamos produzindo aproximadamente 10 J de energia mecânica (lembre do m•g•h); e para responder a essa demanda nosso organismo produziria também 10 J de energia química. Mas, infelizmente para a produção mundial de alimentos e felizmente para quem faz exercícios para perder peso, não é assim. Para cada unidade de energia externa que produzimos nosso organismo precisa “queimar” 4 unidades de energia: uma unidade para dar conta da energia externa e outras três que acabam nos aquecendo. É por essa razão que nosso corpo tende a se aquecer quando fazemos algum esforço físico. Se os mecanismos de condução, convecção e radiação não derem conta da refrigeração necessária, começamos a suar.
Essa é, também, a explicação de porque atletas, trabalhadores no campo e outras pessoas que fazem muito esforço físico comem bem mais do que os preguiçosos ou sedentários. A regra é: para cada unidade de trabalho feito, consumimos 4 unidades de energia química dos alimento. Essas pessoas que fazem muito esforço não têm uma vela acesa na barriga, mas, em muitos casos, o equivalente a uma ou duas bocas de fogão acesas.
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